Acho que as feiras são meio que matriarcas dos mercados. A grande diferença está no fato de que as feiras freqüentemente acontecem ao ar livre enquanto que boa parte dos mercados é confinada em um espaço coberto. Por outro, vale lembrar que algumas cidades nasceram a partir de feiras, ou melhor dizendo, do hábito de comercializar produtos que passou a caracterizar determinados lugares – alguns em feira permanente.
As feiras e os mercados brasileiros foram durante muito tempo sinônimos de desorganização e sujeira. No princípio essas características advinham de aspectos culturais que herdamos de além-mar, assim esses lugares nem sempre eram muito asseados. Porém, com o tempo, a principal razão dessa “desorganização” era o descaso do poder público para com essa atividade comercial, considerada menor – coisa de pobre.
Com o tempo e cuidados urbanísticos, que vão desde a preservação arquitetônica até a publicidade dos seus serviços, algumas cidades conseguiram incluir os seus mercados públicos nas agendas turísticas do país. Da mesma forma algumas feiras livres também são famosas. Não é por acaso que os turistas são estimulados, por exemplo, a conhecerem a feirinha da Beira-mar.
A feira da Praça Pedro II está com seus dias contados. Nunca a visitei, mas sei que emprega pessoas de baixo poder aquisitivo e não vende produtos de marca. Dizem que a principal motivação da sua saída é a ocupação de espaço público. Besteira. Em Porto Alegre, Belo Horizonte e Goiânia há feiras semanais que ocupam quilômetros de ruas da cidade. Em Teresina, há feiras de artesanato permanente embaixo de alguns viadutos da cidade. O FORTAL ocupou a Beira-mar por quase uma década impávido.
Em Brasília havia uma feira no Plano Piloto conhecida como “Feira do Paraguai” (porque ali se vendia grande número de produtos importados – alguns de procedência duvidosa). A pressão das elites locais era pelo fechamento da feira. Quando governou o Distrito Federal Cristóvam Buarque resolveu a questão de modo legal, mas respeitando a demanda social. Criou um pavilhão – fora do Plano Piloto – e instalou os feirantes da antiga “Feira do Paraguai”. O resultado é que a feira hoje é conhecida como “Feira dos Importados”, ampliou o seu volume de negócios, atrai gente de todo o país. Seus empresários estão no mercado formal, recolhem impostos e empregam um grande contingente de trabalhadores.
Para que as feiras sejam livres, sempre há saídas, basta nos despirmos de interesses mesquinhos. falecommc@gmail.com