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FHC e Lula: uma transição mal resolvida?

Uma coisa é comum quando se mudam governos e a oposição ganha: quem assume tem como regra dizer que pegou uma administração “falida”, cheia de problemas financeiros e gerenciais, e que agora vai “mudar tudo, com muito trabalho, para melhor”. Isso nem sempre é verdade. Mas faz parte do jogo político – infelizmente, desde que o mundo é mundo – plantar a dificuldade para vender a facilidade depois. No caso da vitória de Lula sobre Serra, candidato da situação, em 2002, há muita coisa que, como se diz no popular, “ficou por isso mesmo”.

É fácil reparar, por exemplo, que o PT, inclusive como forma de afirmar uma nova gestão e se diferenciar do modelo anterior, fez e faz da comparação de ações e resultados um pilar de divulgação e de sedimentação de sua imagem na opinião pública. À parte a evidente evolução de vários números, por conta de diversos programas, alguns dos ataques mais comuns aos tucanos colocavam em xeque a política de privatizações, a compra de votos para a reeleição e outros quetais.

Pois bem. Hoje em dia, com casos de corrupção vindo à tona aos montes – mensalão e petrolão à frente – a lógica parece ser invertida: o discurso do atual governo é de que “isso já existia antes”. A única diferença alegada por petistas é que agora se expõe, com independência das instituições, o que antes se varria pra debaixo do tapete. O argumento é bom, diga-se de passagem, mas traz em seu bojo uma pergunta inconveniente: por que não se investigou isso antes? Por que o governo Lula não mandou, por exemplo, auditar todas as privatizações, uma a uma?

A transição FHC/Lula é um capítulo ainda não amplamente desvendado nem pela imprensa e nem pelos que se dedicam a escrever a história recente do País. A prisão do senador Delcídio do Amaral, um petista e ex-tucano, trouxe esta necessidade à baila novamente. Ficou claro que algumas coisas, muitas escusas, permaneceram operando na República, independentemente da mudança de governo. A dança das cadeiras em 2002 não afetou alguns acordos, contratos, cargos e negociatas.

Para o eleitor comum, está cada vez mais complicado distinguir petistas e tucanos, dois partidos referenciais no processo de redemocratização do Brasil. No quesito “desvio de verbas”, pode até ser que as panelas tenham mudado, mas o odor é o mesmo. Para o PT, a remota possibilidade de reconstrução após tanto desgaste passa por uma clara independência que renegue tais artimanhas e o recoloque num papel de autonomia política – se é que isso é possível. Caso contrário, a conta a ser paga será bem mais alta do que o montante até então desvelado.

Demétrio Andrade
Jornalista

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