Em meio à mediocridade pátria, o raso e o supérfluo biografam os homens que deveriam guiar nossa sociedade. Busco na figura singular de Herbert José de Sousa, o Betinho, acalento para ver como esse país já produziu pessoas ímpares, engajadas, que dedicaram suas vidas às causas que nortearam o País e enobreceram a existência. Betinho, homenageado pelo grande compositor João Bosco e Aldir Blanc na música símbolo da anistia, o Bêbado e o Equilibrista, teve sua vivência marcada pela luta da justiça social.

Sob forte influência de padres dominicanos, sua formação o levou às causas mais caras de nosso povo. Foi integrante da JEC, Juventude Estudantil Católica na década de 50, fundador da AP, Ação Popular em 1992, assessor do Ministério da Educação no governo de Joao Goulart sendo um dos grandes entusiastas da Reforma de Base que Jango queria implantar, em especial a reforma agrária.

Perseguido, foi obrigado a se exilar no Chile, onde foi trabalhar com Salvador Allende até sua deposição em 1973, onde teve que fugir para um novo exílio no Canadá e, depois, no México. Signatário da Carta de Lisboa, documento de trabalhistas brasileiros que atenderam ao chamado de Leonel Brizola, exilado em 1979, constituiu conceitos inéditos na política brasileira. Princípios esses que foram a pedra basilar dos sonhos de Brizola e seu PDT. Foi neste documento que se cunhou pela primeira vez uma corrente política abordar em direitos da criança, da mulher, do negro, do índio.

Para que serve a democracia e o estado de direito, se a mulher continuar a ser oprimida, o negro marginalizado, o índio exterminado, e a criança abandonada à mendicância e à prostituição? Símbolo da anistia, Betinho regressou ao Brasil, onde se dedicou à Reforma Agrária, afinal é um absurdo um país com tanta terra ociosa assistir a sua população vegetar na periferia das grandes cidades, pregava. Para ele, a alma da fome é política. Criou a Ação da Cidadania contra a fome, a miséria e pela vida, o que resultou na indicação ao Prêmio Nobel da Paz, o qual não ganhou, e que também foi gênese do Programa Fome Zero, projeto do primeiro mandato do governo Lula.

Betinho morreu em 1997 sem se vergar acreditando que o que nos falta é a capacidade de traduzir em propostas e ação aquilo que ilumina a nossa inteligência e mobiliza nossos corações à construção de um novo mundo, mais justo, solidário e humano.

Henrique Matthiesen
Bacharem Em Direito