23.1 C
Fortaleza

Maturidade da solidão

P ara muitas pessoas, estar sozinho remete à ideia de ser solitário, ter poucas relações sociais, poucos amigos ou convites para diversão. No entanto, estar sozinho e sentir se bem é algo muito diferente. Algumas pessoas ficam estarrecidas, quando escutam que fulano(a) vai ao cinema, viaja ou resolve reservar uma mesa em algum restaurante para jantar sozinho(a). Essas pessoas ficam tão chocadas que logo vão criando hipóteses, muitas vezes terríveis sobre o que aconteceu com tal pessoa.

Parece que elas associam a ideia de fazer algumas atividades sozinho(a) à tristeza, solidão ou isolamento. A diferença entre sentir-se só e estar só está na maturidade de reconhecer-se como um ser de relação, não em uma relação de dependência, mas de liberdade, isto é, entender que o outro não é o único responsável pela sua felicidade. E justamente por entender que cabe uma própria ação na vida que o apego vai abrindo espaço para a auto realização.

Quando se compreende que estar sozinho também pode ser prazeroso, o sinônimo até então interpretado vai ganhando outra forma, outras características e também significados. Passa-se a valorizar aqueles momentos onde você pode ser, pensar e fazer o que se tem desejo sem impedimentos, pois é um momento que você pode ser simplesmente você! Por isso, quando uma pessoa decide estar sozinha, ela dificilmente se vê sozinha. Pelo contrário. Ela se conecta com ela mesma e ao fazer isso, ela sente sua independência, sua liberdade para planejar, pensar, decidir e cultivar aquilo que a aproxime mais de sua característica particular de ser no mundo.

Talvez seja pelo fato de se sentirem bem consigo mesmas, sem que esses momentos sejam vistos como “falta”, que essas pessoas tendem a vivenciar relacionamentos duradouros e harmoniosos, porque perceberam sua capacidade de realização independente e por isso cobram menos do outro, aprenderam a somar ao invés de “subtrair”. Entendem que estar com o outro não é uma necessidade, mas uma escolha. E por aprenderem a se conectar consigo mesmas que essas pessoas não se queixam por estarem sozinhas. Pelo contrário. O “estar só” é um escolha consciente e não uma imposição da vida. A visão que elas possuem essa condição não é negativa, tal como seria para algumas pessoas que lamentam uma intensa carência afetiva.

Para alguns teóricos, especialmente da linha existencialista, o ser só é uma condição original de todo ser humano, mas o sentir se só é uma condição temporal. Assim, quando uma pessoa entende que estar sozinha(o) não é uma opção, mas uma imposição da vida, ela entra em um estado emocional de sofrimento, porque, quando ela olha para dentro de si, ela não se encontra. Pelo contrário. Ela se depara com um vazio existencial. E quando isso acontece, mesmo que essa pessoa esteja rodeada de pessoas, ela, ainda assim, se sentirá sozinha, pois esse “preenchimento” que se vê ausente não se encontra nos outros. Encontra se em si mesmo. A diferença de sentir-se sozinho e estar sozinho está no autoconhecimento, na disponibilidade de vivenciar cada momento de uma forma singular. É sentir-se em paz consigo mesmo, não com a paz que o outro te “oferece”. E como se faz isso?

Rossana Brasil Kopf
Psicanalista

Mais Lidas

Entenda 2º projeto aprovado da reforma tributária

A proposta aprovada pelos deputados trata das regras do Comitê Gestor do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) de estados e municípios, que será...

Férias

As colônias de férias espalhadas pela cidade tem sido muito procuradas pelas crianças neste mês de julho. São espaços onde o contacto com a...

Delfim Netto e o ‘Milagre Econômico’

Antônio Delfim Netto, economista catedrático e político brasileiro faleceu nesta segunda-feira (12) aos 96 anos. Foi ex-ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento,...
spot_img