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Fortaleza

Nossa risível “política” antidrogas

Ontem, vi mais três arvores adultas que sucumbiram sob a ira cega da motosserra da Prefeitura de Fortaleza, bem ali na Avenida Antonio Justa esquina com Avenida Barão de Studart. A Avenida Santos Dumont foi toda escalpelada, a Avenida Dom Luís, idem.

É tão parca nossa vegetação urbana que motosserrar uma arvore em região com tão escassa densidade de verde dói. Mas isso tem sido algo recorrente na atual gestão de Fortaleza obstinada em binários, ciclofaixas talvez para compensar a opaca presença da gestão em obras minimamente significativas como, por exemplo, o Mercado dos Peixes e reurbanização da Avenida Beira Mar. No cenário de descalabro na gestão pública capitaneado pelo [des]governo Dilma Rousseff temos, pelo menos, uma boa notícia.

A boa notícia é que, pela primeira vez, no Ceará, o Conselho Interinstitucional de Políticas sobre Drogas — Cipod — tem até uma sigla, “sipode” — fará sua primeira reunião. O conselho funciona sob a chancela da Secretaria Especial de Políticas sobre Drogas, um dos organismos do governo do Estado, que não tem sequer um banco de dados, um “mapa de situação” do problema das drogas no Estado, seja o tráfico, as apreensões, o perfil do traficante, as fontes emissoras, os tipos de drogas, as quantidades apreendidas e os órgãos apreensores, o perfil do usuário, o georreferenciamento da emissão e da recepção… Ufa. A secretaria não tem nenhuma informação sobre nada referente a drogas, mas exibe o pomposo nome de Secretaria Especial de Políticas sobre Drogas. Como desenvolver uma “política sobre drogas” se você não tem uma consistente análise de conjuntura do cenário do problema? A preço de hoje, a secretaria é um ativo cabide de empregos. Mas, pelo menos, depois de um ano, convoca a primeira reunião do conselho. A reunião tem tudo para ser extremamente excitante.

Em sua pauta, estão dois itens. O primeiro item é a apresentação da titular da Secretaria Especial de Políticas sobre Drogas sobre as “principais ações desenvolvidas pela Pasta”. Deverá haver, aqui, um desfile de ações assistencialistas, paliativas, meramente pontuais. Certamente não será apresentado nenhum plano estratégico para o enfrentamento do problema. O segundo ponto da pauta deve ser o mais rico: vai acolher sugestões dos membros do conselho para a elaboração de ações dentro de uma “rede”.

Enquanto isso, no mundo real, as drogas tragam nossa juventude. O deputado federal Moroni Torgan, repetiu ontem, mais uma vez, na tribuna da Câmara, que o crack avança no cotidiano do brasileiro e também no meio rural de nosso País. “Pois saibam que a Bolívia tem dois tipos de plantação de coca. Um tipo que atende aos índios, que pode ser mascado e que vai diminuir o efeito da altitude. Esse tem uma plantaçãozinha de nada. Já no seu Estado de Chapare, a Bolívia tem a plantação de milhares e milhares de hectares de um tipo da planta de coca que só serve para fazer crack e cocaína”.

Moroni revela algo que eu não sabia: “o presidente Evo Morales oficializou a produção de coca no País dizendo: “Nós não consumimos. Quem consome é que tem que se preocupar”. Morales colocou um aeroporto internacional no meio das plantações de coca. Parte vai para a Venezuela que faz o refino da cocaína e manda para os Estados Unidos inclusive tendo o Brasil como entreposto. O rescaldo da produção vem como crack para o Brasil. Essa é realidade. Morales, amigo de Lula, é hoje o maior produtor de pasta de coca no cone sul. O combate às drogas exige uma inteligência estratégica que passa pela Polícia Federal e o controle de fronteiras. Por enquanto, o que o Ceará através de sua secretaria chama de “política sobre drogas” é algo totalmente reativo, ineficaz e mantenedor do cenário desastroso.

Luís Sérgio Santos
Jornalista

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