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Novos tempos para a Argentina

As eleições presidenciais argentinas, ocorridas no último dia 22 de novembro, e que deram a vitória ao atual prefeito de Buenos Aires, o oposicionista Mauricio Macri, representaram o fim de uma hegemonia de 12 anos de governos kirchneristas (de origem peronista), 4 com Nestor e 8 com sua viúva, Cristina. Refletindo, acima de tudo, uma decidida vontade de mudança por parte da sociedade argentina.

O país está há anos com uma drástica desaceleração do crescimento, e a inflação é galopante, fruto de uma fracassada política econômica heterodoxa, concentrada em um excessivo protecionismo e um controle férreo da venda de dólares. Macri foi eleito com uma agenda mais liberal na economia. Com o apoio de fazendeiros e com uma plataforma de amplo incentivo ao livre mercado, promete eliminar os controles de preços, as limitações nas exportações e importações – e assim promover a abertura do mercado argentino para investimentos estrangeiros.

Seu projeto objetiva a diminuição da inflação para um dígito em dois anos. Aliás, a manipulação dos dados oficiais da inflação foi uma das máculas do governo de Cristina Kirchner, pois apesar do anúncio de 25%, de fato a inflação anual tem ultrapassado a casa de 40% nos últimos anos. O novo presidente eliminará o controle excessivo do câmbio, deixando-o cada vez mais fixado pelo mercado, o que num primeiro momento pressionará a inflação, mas também estimulará as exportações, principalmente as agrícolas – ponto primordial de sua estratégia de retomada do crescimento. O governo Kirchner colocou uma série de restrições no comércio entre os países, sobretudo o Brasil – as medidas protecionistas chamadas de barreiras não alfandegarias. Com estas mudanças a serem implantadas pelo novo governo, é muito possível que nossa relação com nosso principal vizinho possa ser retomada numa crescente dentro do comércio exterior.

No âmbito das relações internacionais, Macri promete uma virada na política externa, buscando a retomada de relações com Estados Unidos e Europa, uma reaproximação com China e Rússia, além de defender o abandono do eixo do populismo isolacionista bolivariano – que tem sido marcado pelo incondicional alinhamento dos Kirchner com o chavismo. O novo mandatário argentino, inclusive, já declarou que pedirá a aplicação da cláusula democrática para a suspenção da Venezuela do Mercosul, pelos incontestáveis abusos que têm sido cometidos por aquele país. Mas a missão de Maurício Macri não será fácil. Ele saiu vitorioso de uma disputa acirradíssima, que dividiu o país. Seu sucesso dependerá da habilidade para conquistar consensos em relação a políticas que serão, inevitavelmente, conflitantes. Já que tanto o Senado quanto a Câmara dos Deputados têm maioria kirchnerista.

José Maria Philomeno
Economista

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