Para que a próxima década venha a ser mais justa e duradoura, a universidade é uma instituição-chave. Nenhuma outra instância pode contribuir de forma tão direta para o avanço científico-tecnológico, para o surgimento de bons quadros profissionais e para a formação de novas mentalidades. Essas palavras são do professor Jacques Marcovitch, em artigo publicado na Folha de S. Paulo, edição de12 de julho de 2008.
A universidade brasileira sempre foi elitista, e só recentemente deu uma guinada rumo à democratização do seu ensino. Ainda, hoje, apenas 16% de jovens entre 18 e 24 anos se encontram matriculadas nas universidades brasileiras, enquanto nos Estados Unidos da América 81%.
Aqui no Ceará, não custa lembrar que a UVA iniciou esse processo de democratização do ensino superior, com a expansão da oferta de cursos nas cidades do interior do Estado. Antes, quem quisesse bons estudos precisava se mudar para Fortaleza.
Com a criação da UnB (1962) e da Unicamp (1966), o ensino universitário deixa de ser só para as elites, mas não atinge as massas, principalmente com a reforma imposta pelo regime militar. Passamos a ter universidade pública freqüentada pela classe média alta e por filhos de ricos.
A partir daí, foi sacudida com as críticas de intelectuais do porte de Darcy Ribeiro e Florestan Fernandes. Eles diziam que a universidade era uma verdadeira torre de marfim, voltada para a classe rica, sem nenhum enraizamento popular.
Se a universidade brasileira é das melhores e mais produtivas na América Latina, deve-se muito a qualidade de seus cursos de pós-graduação. Mas, nesse ponto, ressalta também o aspecto das desigualdades brasileiras. Cursos que se destacam mesmo só de Minas, Rio de Janeiro, São Paulo e no Sul.
Mais de 50% dos cursos de mestrados e doutorados estão localizados no Centro Sul do País. Nas demais regiões, um grande contraste, reflexo de uma política de financiamento público injusto e desequilibrado.
Os gestores universitários de todo o mundo experimentam mudanças profundas. Num mundo cada vez mais globalizado estamos vivendo a internacionalização do ensino superior.
Se nos perdemos aqui numa discussão mesquinha para restringirmos a ação de universidades estaduais em seu próprio campus, grandes instituições como a Sorbonne, na Europa, e a americana New York University, apenas para citarmos dois exemplos, estão expandindo suas atividades de ensino e pesquisa no exterior, sobretudo no mundo árabe, com expressivo financiamento de governos locais.
Se, como diz o professor Jacques Marcovitch, depende da universidade para que a próxima década seja mais próspera e mais justa, precisamos olhar com mais profissionalismo, com planejamento o que estamos fazendo com nossas universidades. Disso, depende o futuro que queremos para nosso país.