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Fortaleza

Qual é o seu luxo?

“Eu digo necessário, somente o necessário/O extraordinário é demais/Necessário, somente o necessário/Por isso que essa vida eu vivo em paz”. A música dos irmãos Sherman fez sucesso no filme “Mogli, o Menino Lobo”, lançado pela Disney em 1967, baseado no “Livro da Selva”, do autor inglês Rudyard Kipling. Bem mais do que uma recomendação de vida espartana, o autor quis chamar atenção para um problema que hoje continua a assolar toda a sociedade contemporânea.

É difícil encontrarmos pessoas que saibam distinguir os conceitos de desejo, necessidade e vontade – bordão, aliás, usado em música pelos Titãs há alguns anos. Esta confusão é causada, em parte, por conta das inúmeras mensagens e estímulos que a mídia usa para nos acossar todos os dias. Costumo dizer aos meus alunos de Publicidade que a principal tarefa deles é fazer com que os consumidores tratem um mero desejo como uma necessidade absoluta.

Em tempo: a vontade é a educação moral do desejo, ou seja, através dela você procura concretizar sua idealização. Afinal, não basta desejar uma coisa: é preciso lutar por ela. A necessidade por sua vez, diz respeito a elementos que podem, em caso de falta, vir a comprometer inclusive sua sobrevivência. Tratar desejos como necessidades é caminho certo para ser infeliz. As palavras de Kipling ensejavam, na prática, a lição de tentar ser feliz com o que se tem.

Já disse em outros artigos que hoje, com o advento das mídias sociais, não basta ser feliz: é preciso “parecer” feliz e, além disso, mostrar tal sentimento para o máximo possível de pessoas. Com tantas opções fabricadas pelo mercado, o cidadão que se sente bem andando de transporte público, por exemplo, corre o risco de, no mínimo, ser tachado de “pobre” ou “medíocre”. Afinal, obter – e ostentar – luxos parece ser a regra. Mas, qual é o seu luxo?
Moro numa cidade com um litoral belíssimo e com água numa temperatura convidativa o ano inteiro. Isso pra mim já é um luxo. E dos grandes. Várias praias famosas da Europa não possuem metade da nossa beleza natural, com o agravante de você congelar caso tente enfrentar as ondas. Mas este é apenas um de milhares de exemplos. Há coisas luxuosas por aqui sobre as quais não nos damos conta.
Mas há luxo que variam de pessoa pra pessoa. Eu acho um luxo ter filhos e conseguir criá-los dignamente, ter alguém para amar, uma boa biblioteca, algumas centenas de CDs, correr pela manhã, comer panelada com cachaça, dormir após o almoço, cultivar amigos de longa data e viajar para conhecer outros lugares. Às vezes, o luxo está aí, do seu lado. O segredo é saber vivenciá-lo.

Demétrio Andrade
Jornalista

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