26.1 C
Fortaleza

Síndrome de planejamento

Possivelmente, você acompanhou pela mídia o que aconteceu com alguns candidatos ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), ocorrido no mês de novembro último. Refiro-me especialmente aos atrasados, impedidos de fazer a prova por encontrarem os portões fechados.

Houve de tudo: pessoas sem documento com foto para identificação, que esqueceram de levar caneta preta transparente, que erraram o endereço do local de prova.

O fato é que isso ilustra um mal que aflige a todos nós, pois sofremos de uma síndrome de falta de planejamento que é típica de nossa cultura. Assim, temos o péssimo hábito de protelar e fazer tudo na última hora, simplesmente porque não programamos nossas atividades.

Vivemos em uma nação sem a ocorrência de catástrofes climáticas ou inverno rigoroso, situações que em outros países demanda preocupação e preparo constantes. Convivemos, por anos, com elevadas taxas de inflação que nos impossibilitavam postergar o consumo, incentivando o imediatismo como meio de combater a perda do poder de compra da moeda. Nas escolas, estudamos na véspera das provas e os trabalhos de conclusão de curso entram em pauta apenas quando se aproxima o prazo fatal para entrega.
No mundo corporativo, não é diferente. Poucas são as empresas que realizam planejamento estratégico anual. Como consequência, surgem desequilíbrios financeiros, interrupção da produção por falta de matéria-prima, atrasos em entregas, problemas de qualidade, elevação dos índices de acidentes no trabalho, indisponibilidade de capital humano qualificado, perda de produtividade.

Por conseguinte, somos indisciplinados também na vida pessoal. Segundo o Ministério da Saúde, 51% dos brasileiros têm sobrepeso. Já a mais recente Pesquisa de Orçamentos Familiares realizada pelo IBGE aponta que 68,45% das famílias brasileiras gastam mais do que ganham todos os meses.
Voltando ao Enem, os retardatários alegaram que o ônibus atrasou, que o trânsito estava intenso, que não havia vaga para estacionar. Tudo isso explica, mas não justifica. Chegar antes a qualquer compromisso é um exemplo de respeito e educação para com os demais. Além disso, permite a serenidade para se preparar emocionalmente, seja para uma prova, seja para os debates que ocorrerão durante o encontro.

O resultado disso traduz-se em uma palavra: frustração. Para os atrasados no Enem, minutos ou segundos que significarão um ano perdido. Para um advogado, poderia denotar a perda do prazo para interpor um recurso, prejudicando irreversivelmente seu cliente. Para um profissional de vendas, chegar tardiamente a uma licitação, desqualificando sua empresa e, talvez, levando-a à bancarrota. Para um executivo atrasado a uma reunião, o comprometimento de sua imagem e da companhia que representa. Que tal começar a desenvolver, agora, o hábito do planejamento em todas as dimensões de sua vida?

Tom Coelho
Educador E Palestrante

Mais Lidas

Entenda 2º projeto aprovado da reforma tributária

A proposta aprovada pelos deputados trata das regras do Comitê Gestor do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) de estados e municípios, que será...

Férias

As colônias de férias espalhadas pela cidade tem sido muito procuradas pelas crianças neste mês de julho. São espaços onde o contacto com a...

Delfim Netto e o ‘Milagre Econômico’

Antônio Delfim Netto, economista catedrático e político brasileiro faleceu nesta segunda-feira (12) aos 96 anos. Foi ex-ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento,...
spot_img