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Traição de Canabarro

Produtores latifundiários gaúchos de charque, que constituíam a classe dominante na província, queixavam-se do II Império, em vista da cobrança de pesados tributos. Apesar das persistentes reclamações, sempre por via política, não se sinalizava com qualquer medida, de caráter protecionista. Ao contrário, a monarquia preferiu importar o produto de países vizinhos, por preços abaixo aos do Brasil, provocando um clima de beligerância.

Claro, entre os descontentes, prevalecia o interesse econômico, faltando-lhe uma bandeira de luta que inspirasse um movimento de resistência. Bem pensado, os aristocratas, apelidados de farroupilhas, agora com ideais progressistas e republicanos. Não dava mais para esperar: a 20 de setembro de 1835, nos campos de Seival, declarava-se a República Rio-Grandense.

Seguiram-se batalhas, com vitórias e derrotas de ambos os lados. Bento Gonçalves, que comandava, politicamente, as facções carbonárias e seu estado-maior, sabiam da desvantagem numérica de suas forças. Necessitando de reforços, recrutaram-se negros, campeiros, domadores e tropeiros das terras de Pelotas, sob a vã promessa de libertá-los com o advento da Revolução Farroupilha. Quase um milhar deles, os chamados lanceiros negros, dada sua habilidade no arremessar de lanças compridas. Abrigaram-se em várias companhias e duas divisões: de cavalaria e infantaria. Eram usados como tropas de choque ou formação de blindados nos combates que participavam.

David Canabarro, que contava com a assistência do casal Anita e Giuseppe Garibaldi, comandava os farrapos, desde sua expedição e retirada de Laguna, onde fundaram a República Juliana. Era visível sua pressa, na celebração de paz. O barão de Caxias, nomeado para tentar uma pacificação, acenou para o futuro acordo. Combinaram-se, na noite de 13 de novembro de 1844, seus termos centrais, mais tarde redigidos em doze itens. Acampados no Arroio Porongos, separados dos combatentes brancos, os quais ficaram na outra margem, decidiu-se pela matança em massa dos lanceiros negros.

Talvez se precavendo de novos conflitos. Mais de 100 deles foram sacrificados, na madrugada seguinte. Dos poucos que restaram, na realidade se incorporaram ao Exército Imperial. Enfim, o tratado de paz de Ponche Verde foi assinado, a 28 de fevereiro de 1845.

Esse episódio reedita o do brigue “Palhaço”, da cidade de Belém, quando 5 patriotas foram fuzilados e outros 252 asfixiados, na noite de 15.10.1823, praticado por John Greenfell, mercenário inglês a serviço da marinha brasileira. Estranho este compusesse a força-tarefa monárquica. Se verdadeiro, pode comprometer, inclusive, a honradez de Caxias. Há muitas verdades por debaixo do tapete, cabendo investigação a fundo. Esse o papel de nossos institutos históricos, os quais fingem ignorar o assunto.

Inocêncio Nóbrega
Jornalista

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