Fontes próximas ao prefeito ouvidas pelo O Estado afirmam que perfil de agora do prefeito é “totalmente diferente do da campanha anterior e surpreende”
Kelly Hekally

Quatro anos e o receio de não permanecer no cargo de prefeito separam o José Sarto (PDT) de 2020 e que se estendeu até abril deste ano do José Sarto de 2024. Em busca de sua reeleição e com desafio de desbancar pré-candidatos como Capitão Wagner (União Brasil) e não deixar que as presenças de André Fernandes (PL) e Evandro Leitão (PT) evidenciadas em pesquisas eleitorais avancem em seu caminho, o gestor escolheu o estilo “a la Roberto Cláudio” (PDT) para brigar pela continuidade no cargo.
Fontes próximas ao prefeito ouvidas pelo O Estado em off reiteram que o perfil de agora do pedetista é “totalmente diferente do da campanha anterior e surpreende”.
“Lembro que, em 2020, Roberto Cláudio tomou a frente de tudo. Ele mobilizou tudo e todos. Na verdade, Sarto não queria ser candidato. Aceitou depois de muita insistência de Ciro Gomes (PDT). Sarto já tinha até tempo de se aposentar como deputado estadual. Tem família morando fora. Entendo que, à época, era isso que ele queria. Aí, ser prefeito seria difícil pensando em um cenário assim. Você sabe né? O prefeito viaja, as pessoas começam a falar, criticar”, explica uma das fontes.
*Leia na íntegra entrevista do O Estado com o prefeito José Sarto, veiculada no último dia 1º
O cenário de pandemia do novo coronavírus também se somou às razões para as reiteradas negativas que Sarto deu a seus correligionários, conta outra.
“A primeira campanha foi bem difícil, na verdade. Todos estavam meio que enlutados, por conta da pandemia. O aceite dele veio depois de muita insistência. Ele acolheu aquilo como missão, e acho que está gostando. Quando Sarto foi líder na Assembleia [Legislativa do Estado do Ceará], trabalhava mais de bastidor. Nunca ia a eventos. Ele não gosta de bagunça. Cumpria seu papel como líder e pronto. Havia vários eventos da própria assembleia, do gabinete da ex-primeira-dama, e ela ia só, praticamente”.
“ATUAL ESTILO AMIGÁVEL”
O atual estilo amigável do prefeito, que concentrou boa parte das entregas de campanha de 2020 na reta final da sua pré-campanha à reeleição, se insurge em um cenário em que, apesar de estar na principal cadeira do Paço Municipal, não aparece como preferido nas intenções de votos.
O prefeito tem oscilado dentro da casa dos 20% e já chegou a estar abaixo dela, com 18,1% das intenções de votos, em levantamento do Instituto Paraná publicado em maio com margem estimada de erro de aproximadamente 3,5 pontos percentuais (p.p.) para mais ou para menos. Todas as análises utilizadas pela reportagem estão registradas na Justiça Eleitoral (JE), conforme exigência legal.
Sarto também busca se reeleger para não ficar conhecido como o primeiro gestor que, desde 2007, não recebe aval do eleitorado para permanecer no posto. Assim, o sorriso no rosto, considerando o temor da derrota, passou a acompanhar o pedetista, que chegou a ir de chinela de dedo e bermuda conferir os shows do seu polêmico São João de Fortaleza 2024.
Na plateia “de comuns”, Sarto posou com uma mulher vestida de noiva junina e dançou com outras pessoas presentes na festa. A performance se uniu ao anúncio realizado na última segunda-feira (1º) da 9ª edição do Férias na PI e deu o que falar nas redes sociais, por onde circularam peças de humor com, por exemplo, “Faz o S”, em referência ao popular presidente Lula (PT), e “Sartopalloza”, estabelecendo paralelo com festival, que tem mais de um dia de programação.
Ambas as fontes, contudo, afirmam que o prefeito sempre teve um estilo reservado e sisudo nas suas relações e que seria inimaginável que essa desenvoltura ocorresse em 2020. Uma delas, mais próxima ao gestor, diz que o típico comportamento do médico sempre foram pontos de tensão, sobretudo no pleito passado.
“Havia na casa dele um escritório onde as peças publicitárias eram gravadas. Os vídeos precisavam ser gravados e regravados várias vezes porque não ficavam bons. Uma das coisas que contribuíram para ele se soltar um pouco mais e, certamente, vencer as eleições foi a Marrion, a cachorrinha que o acompanhou na época. Ele estava com covid, bem doente. A Marrion passou, e ele a pegou nos braços. A cena foi publicada, e a campanha do outro lado fez uma abordagem homofóbica. A campanha conseguiu tratar isso como intolerância, o que ajudou Sarto, que ia gravar com outra cachorrinha sua, a vencer. Foi um tiro no pé da campanha de lá […] Percebo que, agora, Sarto está gostando mais do cargo”.
“IMPOPULARIDADE”
O Estado entrevistou Sarto no último dia 27. Uma das perguntas abordou o comportamento do prefeito, criticado por ser distante da população e ter poucas aparições públicas, a despeito de ter optado pelo estilo carismático de maio para cá. No leque de impopularidades, há espaço também para a polêmica Taxa do Lixo.
“Cada um tem um perfil. O perfil do Roberto [Cláudio] é extremamente extrovertido e brincalhão. Eu prefiro estar ligado às redes de educação, saúde, mobilidade do que estar ligado às redes sociais. Tenho muito tempo para gastar com energia, planejar e fazer. O meu perfil é mais esse, de realizar, planejar, executar. E cada um com a sua maneira de ser. E eu acho que uma não exclui a outra”, respondeu.
Questionado sobre se o jeito despojado daria o tom de sua campanha, que oficialmente começa em agosto, e é uma tentativa de aproximação da população, o prefeito nega que encampa uma tentativa de se aproximar do eleitorado. “É como eu sou. Sou oriundo da periferia da Cidade […] Eu vivi na periferia”.