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Fortaleza

Casa da mulher brasileira registra em média 101 atendimentos por dia a mulheres vitimas de violência doméstica

Um estudo realizado em 6 de março desde ano, pela Rede de Observatórios da Segurança, no mínimo três mulheres por semana foram vitimas de violência no Ceará em 2022

A violência contra a mulher tem ganhado uma proporção gigantesca nos últimos anos. De acordo com um estudo realizado em 6 de março desde ano, pela Rede de Observatórios da Segurança, no mínimo três mulheres por semana foram vitimas de violência no Ceará em 2022. As violências são praticadas das mais variadas formas possíveis e na maioria dos casos as vitimas não denunciam os crimes a policia, aponta a pesquisa.

A terceira edição do documento analisou os registros de violência na Bahia,Ceará, Maranhao, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro e São Paulo. No Ceará, os dados do estudo apontam que a maior parte das agressões foi cometida pelo companheiro ou ex. No mesmo periodo as mulheres cearenses vivenciaram um aumento de casos de violência sexual. O número quase dobrou, passando de 17 para 31 casos. 

“Eu vivi mais de 10 anos em um relacionamento abusivo, sempre que pensava em denunciar, ele me ameaçava. Eu nunca senti segurança nos órgãos público e todas as vezes que ia até a delegacia eu desistia no meio do caminho. Quase todos os dias eu era agredida, em determinada situação meu ex companheiro tacou um móvel de madeira na minha cabeça e foi nesse momento que não aguentei mais. Denunciei ele e fui perseguida durante anos, mesmo possuindo uma medida protetiva, mudei de bairro e fui recomeçar minha vida longe daquela realidade sofrida e foi a melhor decisão que tomei até hoje”, conta a dona de casa Maria Rosa.

Casa da Mulher Brasileira

Diante desse contexto, a Casa da Mulher Brasileira oferece acolhimento e encaminhamento de denúncias de forma ágil e especializada. O equipamento é gerido pela Secretaria da Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos (SPS) e concentra em um único lugar os serviços os da Delegacia de Defesa da Mulher, Defensoria Pública, Ministério Público e Juizado Especial, além de funcionar 24 horas, todos os dias da semana.Inaugurada em junho de 2018 em Fortaleza, o equipamento atendeu cerca de 170.100 vitimas de violência no Estado até fevereiro deste ano, uma média de 101 atendimentos diários.

Para a coordenadora da Casa da Mulher Brasileira no Ceará, Daciane Barreto, o cenário político nos últimos anos foi muito nefasto para as ações voltadas as mulheres e na pandemia essa realidade se agravou cada vez mais, com mulheres vivendo financeiramente na dependência do agressor dificultando o rompimento de uma relação abusiva. Para ela, o equipamento promove ações que ajudam a mulher a reconstruir a perspectiva de vida, saindo do ambiente de violência.

“A mulher é atendida no primeiro momento por uma equipe multidisciplinar composta por assistente social, psicologa e advogada com o intuito de fortalecer psicologicamente essas mulheres e encaminha-las para o órgão necessário naquele momento. Além de todo o acolhimento, se a mulher não estiver para onde ir, não possuir parentes e familiares e estiver em risco eminente de morte, nós temos o abrigo estadual e o abrigo municipal, que são lugares sigilosos. A permanência nesses abrigos é de 190 dias, crianças de 0 a 14 anos também podem ficar neste local acompanhadas de suas mães. Dessa forma a mulher terá condições de reconstruir sua vida financeira, psicológica e emocional através de ações e programas sociais do governo federal, estadual e municipal. É uma rede de apoio” ,ressalta Daciane.

A cada 10 dias de atendimentos, uma mulher é encaminhada para o abrigo, a coordenadora destaca que o local é a UTI da rede de atendimento.”O abrigo nao é um local definitivo, é uma UTI de toda a rede de atendimento no qual a mulher recebe toda a assistência necessária no prazo de 190 dias, esse prazo pode ser ampliado dependendo da situação”, conclui.

Expansão do Programa

No dia 8 de março deste ano, a vice governadora do Ceará, Jade Romero ao lado da primeira-dama do estado, Lia de Freitas, anunciou a a construção de mais duas Casas da Mulher Cearense, uma em Tauá e outra em Crateús, para beneficiar diretamente as populações femininas da Região dos Sertões de Crateús e do Sertão dos Inhamuns. Com inspiração na Casa da Mulher Brasileira, os equipamentos são coordenados pela Secretaria das Mulheres do Ceará.

Em entrevista exclusiva ao jornal OEstado, a primeira-dama do Ceará, Lia de Freitas destacou a importância de politicas publicas para combater a violência contra a mulher.”Nessas casas temos uma equipe completa para atender todas as mulheres vítimas de violência doméstica, um atendimento jurídico e psicológico. Também foi instaurado um comitê Estadual contra a violência à mulher, que estava pensando junto com a Secretaria de Segurança Pública, Secretaria de assistência a mulheres e Secretaria de Direitos humanos e igualdade racial.Vamos pensar em políticas públicas para combater essa violência antes que chegue ao crime de feminicídio. Além disso, a polícia militar possui a patrulha “Maria da Penha” que vem atuando fortemente dando apoio no disque 180, com a missão de dar segurança a essas mulheres, de imediato”, enfatiza Lia de Freitas.

Recomeçar

Uma mulher ouvida pela reportagem, que não quer se identificar, precisou mudar de cidade para fugir do ex marido. Ela viveu 15 anos casada com o agressor e mesmo após a separação ele ainda a perseguia. Natural de recife, em Pernambuco, a vitima chegou a ir mais de 20 vezes a uma delegacia e sem nenhuma mudança na situação, ela decidiu vir embora para o Ceará recomeçar sua vida. Ao chegar na capital cearense ela recebeu todas as instruções para procurar atendimento na Casa da Mulher Brasileira e desde então tudo mudou.

“Foi muito difícil para mim, durante 15 anos eu sofri todo tipo de agressão física e psicológica. Não tinha o apoio da família, eles falavam que era ruim com meu marido e seria pior sem ele. Fui ameaçada de morte por diversas vezes e mesmo após a separação em que eu fui obrigada por ele a abrir mão de tudo que conquistamos, eu ainda era perseguida. Em Recife, eu fui na delegacia mais de 20 vezes e nada resolvia. Quando eu estava no fundo do poço eu decidi largar tudo e vir embora para o Ceará. A defensoria publica de Recife me orientou a buscar ajuda na Casa da mulher Brasileira, e desde então eu e meus filhos fomos acolhidos. Tenho uma medida protetiva e recebo apoio psicológico pois fiquei com síndrome do pânico diante de tudo que passei. Nunca entrei numa faculdade pois era proibida. A casa da mulher brasileira ajudou a me inserir no mercado de trabalho novamente. Minha vida estava destruída, mas Deus e o setor de autonomia econômica da casa e todos que realizam o atendimento tiveram um cuidado imenso comigo e eu só tenho a agradecer. Hoje, eu realizo o grande sonho que é trabalhar no local que mudou minha vida e assim também ajudar outras mulheres”, conta.

Para o psicologo clinico, Deivid Weverton Silva de Lima, as pessoas que sofrem violência psicologia pode desenvolver baixo autoestima, ansiedade, depressão, elevados índices de estresse, medo entre outros sintomas. Isso produz um sofrimento significativo na pessoa e causam múltiplas interferências na área afetiva, pessoal, profissional e social. Para o especialista a busca por um profissional se torna indispensável.

“É indispensável que a pessoa procure ajuda profissional de psicólogos (a psicoterapia vai acolher essa pessoa em sofrimento emocional intenso, vai auxiliar ela a ressignificar suas experiencias dolorosas e ajudara na superação do trauma), de instituição como a casa da mulher brasileira cujo o foco é o atendimento as mulheres que sofrem violência doméstica (física, psicológica, moral, sexual e patrimonial), de amigos e de familiares que proporcione a pessoa uma rede de apoio. Uma das características do abusador é produzir a separação da vitima com os seus familiares e amigos, tornando ela, inclusive, mais vulnerável. O resultado dessa busca por uma rede de apoio é que a pessoa consegue sair de um ciclo de sofrimento. Amar alguém envolve cuidar dela, o contrario disso não é amor, é abuso”, alerta o psicólogo.

Informações e denúncias

Recepção: (85) 3108.2992 / 3108.2931 – Plantão 24h
Delegacia de Defesa da Mulher: (85) 3108.2950 – Plantão 24h, sete dias por semana
Centro Estadual de Referência e Apoio à Mulher: (85) 3108.2966 – Segunda a quinta, 8h às 17h

Por Dayse Lima

legenda: Daciane Barreto, coordenadora geral da Casa da Mulher Brasileira no Ceará. ( Foto: Dayse Lima )

legenda: O espaço infantil é destinado para as crianças que estejam acompanhando as mães em atendimento. (Foto: Dayse Lima ).

Foto: Dayse Lima

Foto: Dayse Lima

Foto: Dayse Lima

Foto: Dayse Lima

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