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Programa Ceará Sem Fome irá beneficiar mais de 500 mil famílias carentes

Segundo os dados divulgados no Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar, 2,4 milhões de cearenses sofrem a dor da fome de forma mais aguda.

Com o objetivo de combater a fome e garantir a segurança alimentar da população em vulnerabilidade, foi aprovado, em fevereiro deste ano, na Assembleia Legislativa do Ceará (Alece) o Programa Ceará Sem Fome. O programa liderado pela primeira-dama do Ceará, Lia de Freitas, será executado pela Secretaria da Proteção Social (SPS) e pela Secretaria do Desenvolvimento Agrário (SDA) e terá como destaque a distribuição de um cartão alimentação, criação de Unidades Sociais Produtoras de Refeição (USPRs), distribuição de itens de gênero alimentício, de higiene e limpeza, entre outros.

“Ao todo, unindo as frentes do Programa Ceará Sem Fome, serão mais de meio milhão de pessoas beneficiadas, tanto com o cartão-alimentação, no valor de R$ 300, quanto com comidas já prontas, por meio da Rede de Unidades Sociais Produtoras de Refeições. O grande objetivo é permitir que a população mais vulnerável tenha acesso à alimentação, reduzindo assim, a insegurança alimentar e nutricional dos nossos cearenses”, afirma a primeira-dama do Ceará, Lia de Freitas.

De acordo com um estudo realizado em 2022 pela  Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Penssan), metade da população do Ceará passa fome. Segundo os dados divulgados no Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar, 2,4 milhões de cearenses sofrem a dor da fome de forma mais aguda. Ou seja, são pessoas que acordam todos os dias sem ter como se alimentar. É o que acontece com as famílias em vulnerabilidade no bairro Pirambu, em Fortaleza.

“É muito triste você ver seu filho pedindo para comer um biscoito e você não ter dinheiro para comprar, isso dói muito. Eu e meu filho comemos o básico, não posso comprar o essencial como carne e frutas. A minha única renda era o bolsa família, mas o meu beneficio foi cortado e atualmente estou vivendo de doações. De vez em quando vou trabalhar com reciclagem para ganhar um dinheiro e poder comprar algo. Dói demais essa situação, em alguns momentos eu pensei em me suicidar, por não aguentar tanto sofrimento”, conta emocionada a dona de casa Maria Izabel, 55 anos.

Outra moradora da comunidade é a jovem Maria Rayane dos Santos, 30 anos. Desempregada e mãe da pequena Dulce Maria, 10 meses, ela conta a dificuldade que passa para priorizar a alimentação da criança. ” Estou desempregada e moro de aluguel, todos dias eu acordo e não sei se vou conseguir comer, se eu merendo, a tarde ja não tenho como almoçar, a minha filha está há um mês sem fraldas descartáveis e eu não tenho dinheiro para comprar, o que ganho de ajuda eu priorizo a criança e depois penso em mim. Não recebo nenhum beneficio do governo, passo fome diariamente”, relata a jovem.

Cozinha Popular

Localizado no bairro Bela Vista, em Fortaleza, o projeto Cozinha Popular está há três anos contribuindo com a alimentação de pessoas carentes na região. Bruna Raquel, uma das lideranças do projeto conta que o trabalho sobrevive de doações e que o programa Ceara sem Fome é uma esperança para continuar levando o alimento a quem tanto precisa. Atualmente a cozinha funciona na quinta e no domingo, estamos produzindo cerca de 500 refeições semanais que atendem 300 famílias.

“Todo esse trabalho é desenvolvido com a união da comunidade, vivemos de doações e trabalhos voluntários. Esse programa Ceará sem fome alegrou muito o meu coração. Fomos convidados pela primeira-dama que ouviu a nossa história e nossos desafios. Ela se mostrou muito atenta a esse trabalho e partilhou conosco a importância de entender como funciona para que aja a criação de politicas publicas que nos atendam”, afirma Bruna.

De acordo com a primeira-dama, Lia de Freitas o objetivo é que haja mil Unidades Sociais Produtoras de Refeição, com 100 pessoas sendo beneficiadas em cada uma delas, totalizando 100 mil refeições diariamente. “Com o programa, pretende-se criar a Rede de Unidades Sociais Produtoras de Refeições no Combate à Fome. Ou seja, o Governo do Ceará promoverá um edital de chamamento público para selecionar instituições, que serão classificadas como Unidades Gerenciadoras (Ugs), que podemos dizer que serão as “organizações guarda-chuva”. Por meio desse credenciamento, essas unidades ficarão encarregadas pela transferência de recursos ou insumos às Unidades Sociais Produtoras de Refeição”, destaca Lia de Freitas.

Instituições Religiosas

Uma das emendas aprovadas no programa, está a parceria com igrejas para o combate à fome. A emenda apresentada pelo apostolo Luiz Henrique garante o apoio do governo ao trabalho voluntário de instituições religiosas. Para a pastora Camila Marinho e seu esposo o pastor Marcelino Albuquerque, ambos lideres da igreja Assembleia de Deus Towdah, esse apoio é fundamental para quem convive com a realidade das famílias nas comunidades cearenses, para eles a falta de recursos é um dos principais desafios para o trabalho voluntário.

“Nos realizávamos um trabalho de sopão que atendia cerca de 200 pessoas, mas pela falta de recursos tivemos que parar com o trabalho. Ajudamos algumas famílias na comunidade, a igreja se reune e realiza as doações. Atualmente estamos realizando um trabalho com as crianças, muitas delas chegam na igreja e já perguntam pelo lanche, isso dói no nosso coração . A nossa maior dificuldade é a falta de recursos, chega até nós muitas famílias carentes , mas não conseguimos ajudar a todos.Esse programa do governo é uma ótima oportunidade para ajudar quem gosta de ajudar o próximo”, pontua Camila.

Em suas redes sociais o governador do Ceará, Elmano de Freitas, destacou a importância dessa parceria para amenizar o sofrimento das famílias que sofrem com a segurança alimentar.”Queremos aproveitar e incentivar a experiência da igreja católica, assim como a das evangélicas e todas as demais religiões e organizações da sociedade civil para amenizar o sofrimento das famílias que não conseguem garantir sequer uma refeição digna por dia. A fome é inadmissível em um país conhecido pela sua enorme capacidade de produzir alimentos e fornecer para todo o mundo. Somar forças é dividir responsabilidades para diminuir o sofrimento de quem passa fome”, disse Elmano.

Por Dayse Lima

Legenda: Maria Rayane dos Santos, moradora do bairro Pirambu, convive diariamente com a fome.( Foto: Dayse Lima )

Legenda: Cozinha popular no bairro Bela Vista, em Fortaleza, leva refeições as famílias carentes na região. ( Foto: Divulgação )

Legenda: Voluntários do projeto Cozinha Popular se reúnem com a primeira-dama do Ceará para tratar sobre políticas publicas no combate a fome. ( Foto: Divulgação )

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