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Fortaleza

Grupos de apoio à adoção lutam por direito das crianças

O processo de adoção é permeado de desafios e inseguranças. Neste mesmo caminho, há também um misto de alegria em razão da realização de um sonho, que é a chegada de um filho. Sem dúvidas, o processo também é marcado pela angústia dos potenciais pais, bem como dos filhos, pela experiência da dor do abandono e desamparo dos pais biológicos.

Foto: Divulgação

Dentro desse processo, ainda recheado de burocracia e demora, existem grupos de apoio que trabalham arduamente para o enfrentamento e esclarecimento de questões que permeiam o mundo da adoção para torná-la um sucesso.

Bárbara Toledo, fundadora do Instituto Quintal de Ana, sediado em Niterói, Rio de Janeiro, que contém 23 anos de existência, reflete a importância dos grupos de apoios no processo de adoção. “Não é um curso que vai preparar ninguém para ser pai e mãe, mas, para encarar um processo judicial de adoção, que tem dois momentos: um processo de habilitação e o processo de adoção”, pontua.
Para a missão de garantir o direito de cada criança e adolescente de viver em família, Bárbara explica que a instituição desempenha várias atividades, principalmente os cursos preparatórios para adoção, bem como quando as crianças já estão na casa de seus pais.

“Os grupos de apoio à adoção defendem o direito à família. Esse é um direito constitucional e fundamental e equivale praticamente ao direito à vida. Porque é a família que dá o subsídio necessário para garantir todos os demais direitos como alimentação, saúde, vestuário, educação, lazer, esporte, habitação. O Estado só entra quando esses direitos não são garantidos. E a sociedade é co-responsável na garantia desses direitos. E os grupos entram para fomentar a adoção como uma atitude natural presente na sociedade, uma atitude que todos os adultos deveriam ter para uma criança brasileira sem família”, pondera Bárbara.

Ela frisa ainda que, para auxiliar no processo da adoção e fazer valer o direito da criança ter uma família, o Quintal de Ana também concede orientações por telefone ou e-mail; realiza plantão diário de atendimento social, psicológico e jurídico; realiza reuniões mensais abertas ao público; ministra palestras; promove grupo reflexivo para pretendentes à adoção, dentre outras ações.

No que tange à importância das entidades, Bárbara explica que os grupos de apoio à adoção são entidades civis, sem fins lucrativos, que trabalham para a assimilação e divulgação da cultura da adoção. O funcionamento, ressalta, depende de cada estado, onde alguns já têm convênio com o Poder Judiciário na realização dos cursos preparatórios, conforme é exigido pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e outros ocupam cadeira nos conselhos municipais gerentes da criança e do adolescente.

“Os grupos de apoio batem na porta das autoridades, mostram a necessidade de medidas urgentes em prol de crianças e adolescentes que serão o futuro do Brasil e que merecem ser bem formadas e amadas para que possamos construir uma sociedade melhor”, afirma a fundadora do Quintal de Ana, salientando que o grupo deu cara, visibilidade às crianças que não têm voz, nem vez, “porque elas estão nos abrigos varridas para debaixo do tapete da sociedade”. “E, no entanto, os grupos de apoio gritam por elas, por seus direitos, para que sejam respeitados”, pontua.

Pretendentes
Toledo explica que os pretendentes que passam pelos grupos de adoção, reconhecem as instituições como uma “casa” que vai estar à disposição para esse acolhimento durante todo o processo. “As famílias adotivas precisam de apoio, de adaptação, construção dos vínculos, na superação de desafios. É nesta oportunidade que tratamos sobre o perfil, abordamos sobre o sistema nacional de adoção, do direito à verdade, à origem, que toda criança tem e todas responsabilidades intercorrentes dos aspectos psicológicos que dizem respeito à sua história a partir da adoção”.

Acalanto
Em nossa Capital, as pessoas que pretendem adotar e estão imersas nesse processo, contam dentre outras instituições, com a Acalanto Fortaleza, um Grupo de Apoio à Adoção (GAA), que atua desde 2013, e, também, oferece gratuitamente apoio jurídico e psicológico a pais adotivos e pretendentes à adoção, também desenvolvendo um trabalho de esclarecimento, estímulo e encaminhamento ao processo.
“Nosso objetivo é evitar o abandono de crianças e adolescentes por suas famílias biológicas, fortalecendo o vínculo afetivo; orientando sobre o processo de adoção e oferecer suporte através de orientações jurídicas e psicológicas e de reuniões de pais; além de trabalhar por uma nova cultura da adoção e por uma atitude adotiva em todos os setores da sociedade”, afirma Eliane Carlos de Oliveira, presidente da Acalanto, mais conhecida como Lilica, apelido carinhoso chamado por todos que passam pela instituição e conhecem o trabalho desenvolvido.

Lilica destaca que, por ano, a Acalanto acompanha cerca de 15 adoções. “Atualmente, temos três grupos de WhatsApp. Um com cerca de 185 candidatos à pretendentes à adoção; um outro com cerca de 40 participantes, famílias que estão com a guarda definitiva; e um outro grupo intermediário, com entorno de 30 participantes, que são com pessoas que acabaram de ser contactadas para terem contato com a criança e estão no perído de conhecer a criança. Mas, no total, temos em torno de 300 famílias que também não estão em nossos grupos, mas acompanham as nossas palestras”, explica.

Lilica conta cheia de emoção que a Acalanto nasceu fruto da adoção de sua filha com paralisia cerebral, bem como de uma outra criança da mesma instituição. “As dificuldades eram tantas, que decidimos criar um grupo de apoio em Fortaleza, que não existia e buscamos auxílio em Natal (RN), e foi lá que conseguimos concretizar as nossas adoções”, relembra. “Ela tinha 4 anos quando adotamos, ela está há 11 anos com a gente.

Hoje ela é paratleta, tem índice nacional da natação e estuda em uma escola regular. Eu e meu esposo sabemos que, se não fosse pela adoção, talvez ela não teria sobrevivido. Foi a melhor coisa que a gente fez”, pontuou, lembrando que foi diante das dificuldades, da falta de suporte e informação, que nasceu a Acalanto Fortaleza, para que as crianças tenham seus direitos respeitados, direito à uma família e alguém que olha por ela”.

Rede Adotiva
Dentro do mesmo objetivo, a Rede Adotiva, também uma Organização Não Governamental (ONG), filiada à ANGAAD – GAA, localizada em Fortaleza, trabalha com as famílias em apoio à adoção e destaca que o processo de adoção ocorre em meio a muitas lutas.

“A história da rede é de pessoas que realizaram adoções tardias, adoções de criança com grupo de irmãos, adoções de perfis que não são tão buscados. Então, a nossa história é de luta em torno da adoção, de compartilhar com os outros grupos de apoio, perspectivas, visão de futuro em torno da adoção no Brasil”, compartilha Antônio Diogo Cals de Oliveira Filho, presidente da ONG. “É uma trajetória de muita luta, porque a gente acredita que tem muita coisa para melhorar.

A gente tem muitas crianças acolhidas, uma questão social complexa, que precisa ser analisada. O Estado Brasileiro vem mudando leis, vem tentando efetivar práticas mais consubstanciadas neste processo, mas ainda é um desafio”, chama a atenção.

“Somos importantes instituições voltadas para esse suporte de apoio que o Judiciário não pode dar. A gente consegue trazer esse o componente mais humano e mais próximo dentro desse processo”, finaliza Diogo.

Por Rochana Lyvian

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